Hoje escrevo como Professora de Matemática, alguém ao longo de 8 anos de profissão se esforçou sempre por ensinar, que só este ano letivo mandou cerca de 20 alunos a Exame Nacional. Decidi por isso partilhar algumas reflexões sobre o assunto.
Qual o objetivo dos exames nacionais?!
Esta é a pergunta que ainda hoje me faço. No 12º ano parece-me óbvio, lógico e acertado é o acesso ao ensino superior. Numa tentativa de garantir a tal "igualdade e acesso" consagrada na constituição. Todos (pelos menos os que estão profissionalmente ligados à educação) sabem que há várias formas de aceder ao ensino superior e de mascarar notas para facilitar entradas, o ministério descobriu isso este ano depois de um
estudo feito, divulgado este ano letivo.
Em todos os outros ciclos de ensino (1º, 2º e 3º ciclos) parece-me um exagero todo o ênfase dado aos resultados dos exames nacionais, especialmente no 4º e 6º ano é horrível o que fazem às crianças. Chega a ser desumano ver aqueles pequenos sujeitos a estes níveis de pressão.
Penso que será uma tentativa de "homogeneizar" o ensino a nível nacional, ainda que me parece impossível. Também pode ser para alimentar os rankings e as ideias neoliberais de educação, com vista à catalogação das escolas (não existissem já preconceitos suficientes dentro das escolas).
Ainda que sendo Professora de Matemática, tendo a odiar esta medida cega, feita por 2/3 horas de uma prova, cujos critério de correcção são discutíveis. Prova com claros objetivos políticos, que seguem uma linha ideológica.
Todos os professores sabem, a maioria assume sem qualquer problema, que em ano de eleições as provas são mais fáceis. Todos os professores de Matemática sabem que as provas de Matemática desta legislatura foram as mais difíceis de todos os tempos, sendo em alguns exercícios de um grau de dificuldade absolutamente despropositado, sabemos e prevíamos isto porque todos lemos o que o Crato escreveu, conhecemos a sua linha ideologia de rigor e exigência, que cego pelo poder agravou e mostrou isso ao mundo, da pior forma.
Este ano não foi exceção, aquando da datas das provas todas as vozes foram unanimidades a dizer que as provas tinham sido bem mais fáceis que nos outros anos; os resultados não foram melhores, porque assistimos a uma sangria desatada na alteração de critérios ao longo do processo de correção, alterações que na sua maioria (exceção feita ao 4º ano) prejudicaram muito os alunos.
Onde está a justiça disto tudo?! Em lugar nenhum. A nota de uma aluno que tenha feito exame em 2008 não pode ser comparada com a nota de um aluno que fez exame de 2013, portanto não existe igualdade neste processo. Esta linha ideológica só serve para aumentar o sentimento de injustiça, que os alunos já foram acumulando ao longo do seu precurso escolar. Este ano será o ano em que alunos ficaram baralhados com os resultados, por até lhes correu bem, mas a nota não corresponde(rá). Qual é o objetivo?! O que aprendem com isso?! Nada. Agudizará a resistência à disciplina, o sentimento de injustiça e baralha toda a gente.
Os exames não mostram o que alunos sabem, são ou sabem fazer; mede apenas um conjunto de habilidades que alguém define - aqueles alguéns que muitas vezes não fazem ideia da realidade da sala de aula dos anos que legislam, que não dão aulas, nem nunca deram e de certo modo até temem ter de dar, e mesmo os que deram era preferível que nunca o tivessem feito.
Sou daquelas pessoas que quando o Sr Ministro Nuno Crato foi anunciado como Ministro da Educação ficou sinceramente feliz, até eufórica. Admirava o seu rigor, o que escrevia sobre ensino da Matemática ia de encontro ao que penso, tenho até vários livros dele que lia com entusiasmo. Neste momento, anseio que desapareça daquela cadeira. Gostava de lhe pedir satisfações sobre as alterações feitas ao programa e por em causa os seus objetivos, gostava de lhe puxar as orelhas e dizer estiveste mal e desiludiste-me, tal como um professor desilude um aluno...
Nota:
Rankings coisa absurda, irreal e mal estruturada. Não percebo, nunca perceberei, como se comparam os resultados de uma escola de um meio privilegiado, com uma escola de um meio desfavorecido. Não têm os mesmo meios, os mesmo objetivos e ainda menos o mesmo contexto social. A variabilidade não deveria ser castrada com a ditadura da medida e dos resultados, somos um país pequeno mas com realidades muito diferentes, penso que isso deveria ser respeitado. Vejo escolas públicas com campanhas de marketing, que olham os alunos e encarregados de educação como clientes; que os compram com promessas de boas notas, publicitam o lugar no ranking e o facilitismo, lei da oferta e da procura a famosa mercantilização do ensino.