Stateless, Minissérie
Stateless é uma minissérie Netflix que retrata o interior dos campos de refugiados na Austrália, ainda que a personagem central seja uma cidadã australiana detida erradamente. É baseada num conjunto de histórias reais, tem a mão de Cate Blanchett, um elenco muito australiano e cheio de caras conhecidas. A narrativa centra-se essencialmente sobre três histórias:
- Uma australiana com problemas psiquiátricos, Sofie. Ela foge de uma vida que não deseja, não entende e sobre a qual perdeu o controlo; precisa, mesmo recusando, de ser tratada e do auxílio da família. Existe um conjunto de circunstâncias que desencadeiam na personagem Sofie, brilhantemente interpretada por Yvonne Strahovski, comportamentos que sugerem doença psiquiátrica. Considero que a narrativa associada a esta personagem é confusa, pouco clara e fica muito por explorar. A forma como está filmada talvez seja propositada, para que o telespetador se sinta mais próximo do que a personagem sente, pessoalmente não me agradou.
- A história da família afegã (pai, mãe e duas filhas). Aqui podemos fazer paralelo com os milhares que chegam à Europa, em circunstâncias muito semelhantes. É possível concluir que apesar da Europa dar o seu melhor e lidar com números bem maiores, mesmo o sistema australiano tendo falhas básicas, ser refugiado na Austrália é bem melhor do que sê-lo na Europa. Esta narrativa é mais fácil de seguir e achei que retrata bem um enorme número de situações do quotidiano mundial, muito real, triste e duro.
- Cam, o “guarda prisional”. Na realidade aquilo não é uma prisão, mas parece, logo o Cam será um dos vigilantes que assegura e o normal funcionamento do local. No entanto, este homem tem: consciência, empatia, família (onde se incluí uma irmã que luta pelos direitos dos refugiados) e é honesto. É talvez a personagem mais humana e normal da trama, que tal como Clare, não sabia no que se estava a meter. Tanto Clare como Cam mostram como, os processos, protocolos e procedimentos, facilmente desumanizam um individuo integro e com ideais.
Nota: Aqui poderia incluir a Clare, uma personagem muito importante para a história, mas a narrativa não lhe dá o tempo de antena e o destaque que merece. É uma burocrata, determinante no desenrolar da ação, uma personagem complexa, mas pouco explorada.
No geral, gostei da minissérie que tem um final que não é final, como na vida real, as vidas ali retratadas continuam. É muito interessante, porque nos permite conhecer melhor um país tão pouco retratado no ecrã como a Austrália, mas não me deixou colada e com vontade de ver uns episódios atrás dos outros.