O meu Pai
O meu Pai foi, e continua a desempenhar algumas das funções designadas, o meu: Encarregado de Educação e gestor académico, treinador de futebol, motorista, financiador a fundo perdido e exemplo.
Não foi: o melhor amigo nem confidente, e penso que não é suposto. Um Pai ou uma Mãe não devem ser os melhores amigos dos filhos, são (sem dúvida) as pessoas com quem podemos contar, sempre, mas tem uma função muito importante serem: Pais.
O meu Encarregado de Educação, coisa rara nos anos 90 onde as mães eram figura dominante neste posto, durante 12 anos de escolaridade foi: implacável. Faltas injustificadas não existiam no meu boletim final, simplesmente não me atrevia; não por temer retaliação física (porque não “apanhava”) mas porque não queria receber um sermão, um olhar de desapontamento ou um silêncio ensurdecedor de reprovação. A nível de notas tudo o que fosse menos que nível de excelência era insuficiente, o que se mantém até hoje, tanto a nível profissional como académico: menos de 15 é derrota! É uma marca pessoal e profissional: a exigência, comigo própria, não por competição, mas por motivação pessoal.
Durante a universidade passou a gestor académico, codetentor das minhas passwords para ver as notas, porque não existia internet nem computador disponível onde morava, era ele quem me informava dos meus resultados académicos e foram anos penosos, especialmente o primeiro; mas nada que ele não antecipasse. Foi mais compreensivo como gestor académico do que como Encarregado de Educação, talvez porque me via mais dedicada, mas sem alcançar os níveis de outrora.
O meu Treinador de futebol, ele adora futebol e só teve filhas, portanto aguentou-se com o que havia😊 Eu era central, fazíamos jogos amadores e o torneio Snikers, famosos na época e que nos proporcionaram memórias para recordar em jantares de amigos dessa época. Pode parecer pouco, mas no século XX não havia nada melhor ao nível de futebol feminino. Aturava-nos a nós, filhas, e às nossas amigas que formavam a equipa. Coitado penou um bocado…
O meu Motorista, como todos os pais (mas não tanto como hoje), memorável foi quando nos levou a concertos dos Excesso. Não só a nós como às nossas amigas. Imaginem o cenário: um pai e um carro com adolescentes histéricas bem a cima da lotação, olhando para trás é de louvar; outros tempos.
O meu Financiador, com um investimento financeiro a fundo perdido e sem esperar retorno do investimento, investiu no nosso futuro antes de tudo o resto. Colocou o nosso futuro à frente de tudo: do seu bem-estar, do seu conforto e dos bens materiais. Isso nunca dinheiro nenhum poderá pagar. Deu-nos a possibilidade de sermos mulheres independentes, instruídas e com uma perspetiva que poucas do nosso meio tiveram.
Em suma, o que sou (bom ou mau) a ele o devo. O meu Pai acompanhou-me, pagou as minhas despesas, foi exigente e preparou-me para um mundo que não dá tréguas.
Obrigada Pai!
P.S.: sei que o dia do Pai foi ontem, mas aproveitei o tempo livre para estar com ele e fazer coisas com e para ele.
Esta foto foi das primeiras vzes em que o meu Pai pegou em mim colo, ainda na maternidade, eu vestida de azul e coberta de pêlo.
Em 1984 as ecografias tinham um rigor enorme e fui rapaz até nascer, portanto gramei com roupa azul ou verde até tarde. Segundo reza a lenda nasci numa quinta-feira, dia de feira em Barcelos de onde veio a minha primeira roupa cor-de-rosa comprada por outro grande Pai, o meu avô. Da lenda do meu nascimento consta uma rejeição inicial do meu pai, achou que tinha sido trocada, esperava um belo rapaz e saiu uma medonha rapariga; hoje sei que não fui trocada e sei, nos silencios e olhares que partilhamos, que ele não gostaria que fosse de outra forma.