O caminho obscuro da felicidade -PhD
Não se pode dizer que não tenha uma vida ocupada, que tenho. O meu dia-a-dia é, como o da maioria das pessoas, cheio de rotinas casa-trabalho e alguns momentos de lazer. Tenho dois empregos, que me ocupam mais de 50 horas de trabalho efetivo por semana (excluindo as planificações); tenho as tarefas domésticas, que mesmo partilhadas, a maioria é da minha responsabilidade; ainda treinava 3 vezes por semana. Só isto bastaria, mas a realidade é que não basta, falta realização pessoal. Não era infeliz mas sentia a falta de algo.
Tinha o tempo ocupado a tratar e a fazer coisas, mas vazio de realização. Mesmo adorando o que faço e não me vendo a fazer outra coisa, faltava-me um desafio. No ano passado decidi que ia aprender algo novo este ano, inscrevi-me para aprender a tocar baixo, veio o Covid abandonei o baixo. Entretanto, depois de anos de ponderação e após profunda reflexão individual e em casal, espaço de reflexão gerado pela quarentena, decidi fazer Doutoramento.
Sempre soube no que me ia meter e evitei-o durante anos, mas só quando estamos lá é que realmente sentimos. Basicamente oscilamos entre o desespero e a euforia. O tempo foge entre os dedos, os papeis a amontoam-se e tudo parece caótico, é efetivamente. Mas depois há aqueles momentos, para os quais vivemos, onde o sentimento de realização é enorme. São aqueles em que chegamos a uma solução linda, perfeita e correta (convém) de um problema que parecia irresolúvel. Não é possível descrever essa sensação de superação, só mesmo quem experienciou, mas garanto que é fantástica.
Estive o dia todo a estudar, tenho amanhã prova, sinto-me feliz e realizada. Não sei se a prova vai correr bem, mas o que realmente importa é o caminho que fiz; o que aprendi, os saltinhos que dei e os cabelos que perdi enquanto fazia esse caminho. Nem todos sentimos realização nas mesmas coisas, eu sinto-me realizada assim, através das minha próprias conquistas e sem necessitar de projetar sobre ninguém a busca da minha própria felicidade. Ainda que tenha a apoio incondicional da família e tenha instituído períodos de serviços mínimos, entendo hoje que a minha felicidade está em mim, apesar de ser muito melhor quando partilhada.
Confesso que me meti nisto por necessidade estabilidade profissional, mas já que é para fazer que seja bem feito, que seja espetacular. Que seja épico e maravilhoso!
Obrigada ao meu Marido que não me deixou desistir logo na segunda semana, cujo lema é “Mulher feliz, Homem feliz!”. Que tem sempre uma palavra de conforto quando eu lhe peço para me mentir, ele abraça-me e diz “Vai correr tudo!”.