Diário de uma Pendura: Miranda do Douro-Évora (dia 2)
Esta era uma das etapas que mais temíamos: pelo número de quilómetros, pelo tempo em cima da mota e pelo cansaço, estatisticamente falando era a etapa que poderia correr pior. Antes de nos fazermos à estrada tivemos direito a pequeno-almoço à moda antiga transmontana: torradas de pão transmontano caseiro, café feito na panela como fazia a Avó Maria e bôla doce da Madrinha. Últimos mimos dados, beijinhos, abraços, recomendações, os avisos habituais “Vão com cuidado. Tenho cuidado. Sempre com juízo.” e siga que se faz tarde.
No ano passado fizemos a EN-2, portanto não tínhamos necessidade de repetir paragens pelo país. Assim a nossa planificação era ir diretamente para Évora, que não conhecíamos, e daí para a costa Espanhola do Mediterrâneo. Deixamos o percurso a cargo GPS, que nos enviou por Espanha até ao Marvão; felizmente porque as estradas espanholas são muito melhores, neste percurso nunca fomos em auto-estrada mantivemos os nossos planos de ir por nacionais, sempre que possível.
Algures no percurso deparamo-nos com um complexo edificado que nos chamou à atenção, não temos intercomunicadores -ótima opção, para viajar em paz e sossego- logo que toquei nas costas, encostamos e foi: “Paramos aqui para dar uma vista de olhos?! –Siga.”. [Normalmente estamos de acordo no que visitar e fazer, salvo algum condicionamento, as nossas vontades estão alinhadas.] Tinhamos esbarramos com: Ciudade Rodrigo. Não conhecíamos, nunca tínhamos ouvido falar mas ficamos bastante impressionados logo à entrada e fomos ficando cada vez mais impressionados como encontravamos. Em excelente estado de conservação, organizada, limpa e imponente, com imensa diversidade arquitetónica e histórica. Fiquei com vontade de voltar e explorar mais, se conhecêssemos talvez tivéssemos feito escala aqui. Esta é uma das vantagens destas viagens selecionar locais que valem a pena e outros que não, fazer um rastreio sem ter de comprometer umas férias inteiras.
Sobre as estradas, já antes de Ciudad Rodrigo seguíamos pela EX-109, mas foi a partir daí que achei a estrada bem mais bonita e interessantes. Menos plano, menos retilínea e com mais diversidade paisagística. Enquanto viajantes adoramos apreciar a diversidade de: plantações, animais, cheiros e fazer a, inevitável, comparação de um lado e outro da fronteira. Somos amantes, apreciadores e respeitadores da natureza, viajar de moto coloca-nos bem mais próximos dela.
No trajeto, mas sem tempo para parar, passamos por Alcantara em Espanha, senti o efeito UAU e fiquei com muito pena de não ter parado. A nossa viagem estava focada em cidade e tínhamos de nos manter dentro da planificação, mas ficou a ideia de fazer um roteiro de Castelos e Muralhas de Península ibérica. No entanto, se passarem por perto deem lá um salto, vale a pena. Ficamos com aquela sensação de sermos especiais por pisar onde milhões pisaram antes de nós, com propósitos mais ou menos sórdidos.
A estrada continuou incrível, atestamos antes de entrar em Portugal, entramos em Portugal pela Serra do Marvão e seguimos para Évora. Estávamos cansados e sem muito tempo. No entanto, aquela zona tem paisagens incríveis, cidades lindas e sendo Alentejo bom vinho e boa comida garantidamente; outra zona que merece um saltinho com mais tempo; enfim chegamos a Évora.
Nota sobre a fauna: do lado espanhol existiam mais aves selvagens do que do português, essencialmente aves de rapina de grande porte, que por terras lusas, apesar de mais frequentes acada ano, ainda são uma rara aparição.