Portugal e Islândia, os países e os números.
A Islândia é um país com 112 anos, quando se tornou independente da Dinamarca. Tem 103 000 quilómetros quadrados, um PIB per capita de 37 895€ e 320 000 habitantes (menos que o concelho de Sintra).
Em 2008, este país teve a maior crise dos países europeus, sendo que viu o sua dívida atingir 900% do PIB. Nesse ano foram nacionalizados três dos maiores, e mais problemáticos, bancos do país; que depois os deixou falir, levando consigo os maus investimentos de privados e empresas que aí correram os riscos. Foram presos efetivamente (e condenados) os banqueiros, empresários e políticos corruptos responsáveis pela crise do país. Cerca de 30 pessoas, no total de 320 000 que o país tem. Caíram governos, fizeram justiça e não estenderam a mão a ninguém, o FMI quis ir lá fazer asneira e eles mandaram-nos dar uma volta.
Portugal 877 anos, 92 090 quilómetros quadrados, 11 000 000 de habitantes e 23 384€ de PIB per capita.
Em 2008, começa a crise em Portugal. Os bancos caem um atrás dos outros até 2016 já foram, pelo menos 4, até ao momento. Ninguém foi preso, nenhum governo caiu por causa disso. O país pagou, a peso de ouro a má gestão de um punhado de homens. Não fomos capazes de nos levantar sem perder autonomia e voltar a estender a mão a quem é, em grande parte, responsável pela própria crise.
Estes são os dois países que empataram ontem. Foi só ontem que empataram porque em número há claramente um em superioridade.
A 14 de junho de 2016 encontraram 35 000 adeptos de futebol, 7000 islandeses e 28000 portugueses; ou seja, por cada islandês estavam quatro portugueses. Seria de esperar que, efetivamente, Portugal estivesse em casa (como tanto se publicitou durante a semana). Mas a respostas às perguntas:
Quem se ouviu?
Quem puxou pela equipa?
Quem apoiou incondicionalmente?
A resposta é: OS ISLANDESES.
Vi muitos portugueses a tirar fotografias, a filmar e de corpo presente. Mas, muito pouco a levar para a frente uma equipa perdida e desorientada, composta por uma parte de pequenos rapazes que precisavam do apoio da sua gente. Não basta dizer que se enche o estádio e que se faz festa, é preciso fazer mais e falar menos. Toca a levar isto para a frente, não basta mudar as fotos do perfil, tirar fotografia a bilhetes e dentro do estádio, é preciso apoiar.
Já sabemos que somos um país de brandos costumes, de fado, sofrimentos e melancolia; agora precisamos de mostrar que, pelo menos no futebol, sabemos ser unidos.
Empatamos com um país com 0,03 da nossa população, mas isso não é o maior fosso entre os nossos países. O maior é a mentalidade de um povo que é: mais organizado, mais autónomo e mais independente. Enquanto nós temos Amália eles têm Björk - já por si é uma grande falha nossa.
Enquanto adepta de futebol penso que ontem o público foi uma falha grave, gravíssima, os pequenos contavam convosco e vocês falharam. Assim a nossa seleção jogou num ambiente hostil e desagradável, originado por 1/5 das pessoa presentes no estádio. É no fundo um reflexo da sociedade atual, as pessoas vão para mostrar que foram nas redes sociais, estando ali sem aproveitar o momento e viver efetivamente. O que contam são os likes, as visualizações e as partilhas, mais uma vez fomos medíocres e reles.